Fonte: Valor Econômico - SP
Mais de uma década após o fechamento da Bolsa de
Valores do Rio, a cidade vê o renascimento de
atividades voltadas para o mercado financeiro. De um
lado, esforços do governo para fomentar o setor,
buscando descobrir nichos que possam ser
desenvolvidos na cidade para atrair corretoras e
administradores de recursos. De outro lado, gestores
de grandes fortunas voltaram-se para famílias
tradicionais que permaneceram no Rio, mesmo com o
esvaziamento econômico da década de 1990. Por fim, a
retomada da atividade financeira está fazendo com
que profissionais do setor, formados nas
universidades do Rio e que se mudaram para São
Paulo, agora retornem para casa.
O
carioca morador de São Paulo, George Wachsmann,
presidente do Comitê de Gestores do Patrimônio
Financeiro da Anbima, brinca que até o mercado de
estagiários do setor financeiro em São Paulo está
inflado. É de olho nesse inchaço que a secretária
municipal de Fazenda do Rio, Eduarda La Rocque, está
se articulando para fomentar, no Rio, atividades que
ainda são incipientes no Brasil. Uma das
possibilidades é a instalação de um escritório da
Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), com ênfase em
uma plataforma de licitações eletrônicas, a BBMNet,
cujo funcionamento está em fase de fortalecimento.
Como boa parte de instituições e empresas sediadas
no Rio é ligada ao governo, como Petrobras, BNDES e
fundos de pensão, faz todo o sentido ter um
mecanismo desses na cidade, acredita a secretária.
Eduarda, conhecida no mercado financeiro - onde
começou sua carreira - como Duda, também quer
aproveitar a vocação natural do Rio de Janeiro de
concentrar negócios voltados à área de óleo e gás
para desenvolver novos produtos de derivativos que
explorem, por exemplo, a diferença de preços entre o
barril de petróleo vendido pela Petrobras e o brent,
negociado em Londres. Para isso, tem conversado com
a BMFBovespa que, segundo ela, está receptiva à
ideia.
A
secretária quer explorar também o desenvolvimento do
mercado de renda fixa e aquele relacionado a
energias sustentáveis, como a negociação de créditos
de carbono, que ainda procura um caminho para se
desenvolver no país. "Há uma série de mercados
emergentes. E o Rio também está ressurgindo. Então,
faz sentido trazer para cá os mecanismos que ainda
não estão tão desenvolvidos, já que a bolsa tem
várias frentes de atuação", afirma. "Queremos trazer
os patinhos feios para cá, para eles se tornarem
cisnes", diz.
Eduarda faz questão de mostrar que não se trata de
uma disputa com São Paulo, para recuperar o espaço
perdido, mas de explorar possibilidades que a
capital paulista já não comporta por questões de mão
de obra e de espaço físico. "É uma divisão natural.
O Estados Unidos, por exemplo, têm vários eixos,
centros locais do setor financeiro. A gente viu, no
Rio, tudo fugir para São Paulo ao longo das duas
últimas décadas. Agora, a ideia é fazer do eixo
Rio-SP o centro de negócios da América Latina", diz.
Partidário dessa ideia, o sócio da Mercatto
Investimentos, Regis Abreu, chama essa associação
entre Rio-SP de "hub financeiro", comparável a Hong
Kong e Cingapura ou a Nova York e Boston. Ele lembra
que as atividades são complementares, já que São
Paulo tem uma concentração de bancos muito forte. Já
o Rio está começando a ser forte no segmento de
inovação financeira e capital de risco. "São perfis
de risco de negócios diferentes. Existe muito mais
complementaridade do que competição", afirma. George
Wachsmann, que é sócio da BAWM Investments, acredita
que o processo de abertura de assets independentes
no Rio é um processo natural de acompanhamento da
economia fluminense, que voltou a crescer de maneira
mais significativa. "Gestores vão atrás de clientes
de alta renda, cuja existência depende do que
estiver acontecendo na economia", diz.
|