Licitações de vendas ao
governo exigem muita organização.
Ediane Tiago, para o Valor , de São Paulo
30/04/2008
Divulgação
William
Brito: "O segmento participa hoje de 17% do
fornecimento para o Estado e queremos ampliar para
30%"
Gerir de
forma eficiente o negócio, conhecer muito bem a
estrutura de custos, dominar a produção e obter
certificações é um ótimo negócio para empresas que
pretendem vender para o setor público. A Lei Geral
da Micro e Pequena Empresa dedica um capítulo
inteiro à questão do acesso aos mercados, cujas
vantagens para as compras governamentais estão
expressas. A principal regra é a de que as compras
até R$ 80 mil devem ser preferencialmente atendidas
por empresas de pequeno porte, desde que elas
ofereçam preços competitivos e sejam capazes de
entregar os produtos e serviços licitados.
Outro
ponto forte é a simplificação do processo de
licitação para o fornecimento parcial em grandes
lotes, reservando parte da compra para suprimento
por micro e pequenas empresas quando os bens ou
serviços forem divisíveis, a exemplo de suprimento
de papel. Em licitações com valores maiores, em que
o critério for o de menor preço, a preferência
também é da micro e pequena empresa em caso de
empate. "O segmento participa hoje de 17% do
fornecimento para o Estado, quando falamos de
governo federal, estadual e municipal. Queremos
ampliar este número para 30%", conta William
Rodrigues Brito, analista da unidade de políticas
públicas do Sebrae.
Segundo
ele, é necessário que os empresários atentem para
seus direitos e busquem formas de participar das
licitações, aproveitando o potencial de compras do
governo como estratégia para manter e até mesmo
ampliar o negócio. "O governo brasileiro, nos
âmbitos federal, estadual e municipal, tem um volume
de compras que está entre 10% e 15% do PIB", afirma.
No texto da Lei Geral, também há a previsão de
contratação de micro e pequenas empresas em grandes
licitações, aquelas que são atendidas por empresas
maiores. Neste caso, as vencedoras podem terceirizar
até 30% da mão-de-obra envolvida, utilizando
parcerias com micro e pequenas empresas. "Quem tiver
mais capacitação técnica ganha a parceria", destaca
Brito, lembrando que certificados como ISO 9000 são
instrumentos importantes para provar que a empresa é
uma boa candidata para atender a este tipo de
demanda.
Nas
esferas que adotaram a prática de privilegiar as
empresas de menor porte, é possível notar o
entusiasmo do segmento. Segundo dados do Ministério
do Planejamento, a participação de empresas de
pequeno porte nas aquisições públicas de bens e
serviços da administração direta do governo federal
subiu de 10% para 37% só no ano passado, sendo que o
volume de contratos específicos de pequenos negócios
chegou a R$ 9,5 bilhões. Em 2006, o total registrado
foi de R$ 2 bilhões. O ministério informa ainda que
158 mil empresas de pequeno porte estão cadastradas
como fornecedoras do governo e que elas foram
responsáveis por quase metade (R$ 8 bilhões) dos
itens contratados por meio de pregão eletrônico.
Neste caso, a cifra atingiu o total R$ 16,5
bilhões.
Segundo
Sônia Lúcia Pereira de Moura, superintendente da
ConLicitação, portal que divulga informações sobre
negócios públicos para empresas em todo o Brasil, as
pequenas empresas, em geral, desconhecem as
vantagens, as regras e a legislação. Por isso, fogem
das concorrências e consideram o processo para
participação complicado. "Nem sempre o empresário
controla a documentação e a parte fiscal da empresa.
Estes são itens que devem estar sempre em dia para
entrar em leilões", confirma.
Além da
parte fiscal, o domínio da formação de custos é
fundamental para quem pretende entrar nas disputas
de preços, tanto nas presenciais como nas
eletrônicas. "Para dar o lance, o empresário tem de
estar certo do que pode oferecer, tornando a sua
empresa competitiva em preço, mas sem prejuízo para
sua margem", diz.
Outra
competência que precisa ser desenvolvida é a
utilização dos pregões eletrônicos. É cada vez mais
comum a utilização da internet para a realização de
compras e as licitações ocorrem com lances dados por
diversas empresas. "A vantagem é que as candidatas
podem vender seus produtos em todo o Brasil. Sendo
esta ferramenta uma excelente aliada na expansão dos
negócios", afirma Sônia.
O Sebrae
também adverte para o controle da produção,
qualidade de serviços e cumprimento dos prazos. Como
os leilões têm regras bem-definidas, as empresas que
não cumprirem as exigências podem se prejudicar e
perder o cliente. "Ainda existe resistência em
algumas esferas para estender licitações maiores que
R$ 80 mil para empresas de menor porte. A idéia é
que elas não poderão cumprir os compromissos".
Apesar das
boas chances de negócios, Francisco Guglielme,
consultor e professor da Fundação Getúlio Vargas e
da Fundação Instituto de Administração (FIA)
ressalta que o medo de não receber ou a incapacidade
de empresas de pequeno porte de esperar mais de 30
dias pelo pagamento assustam os candidatos. "É
preciso ter uma operação bem gerida para atender o
governo. As exigências afugentam os pequenos",
avalia.
|