MEC centraliza compras com pregão eletrônico
Paulo de
Tarso Lyra, de Brasília
11/09/2009
Ruy
Baron/Valor
Fernando
Haddad: "Estado tem condições de propor uma nova
política de compras e de fomento à indústria"
Responsável por administrar um terço de todas as
autarquias federais - incluindo nesta conta 46
hospitais universitários, 55 universidades e 38
institutos federais - e com um público-alvo que
envolve as 5,5 mil prefeituras e os 27 governos
estaduais, o Ministério da Educação adotou uma
medida centralizadora de compras, reunindo o pregão
eletrônico e um registro nacional de preços. O
modelo começou com o Programa Caminho da Escola,
que comprou ônibus escolares para a zona rural
brasileira - um investimento de R$ 600 milhões para
300 a 400 mil unidades por ano.
O MEC é o
primeiro ministério a adotar um método centralizado
de grandes compras. O orçamento de custeio do
Ministério, em 2009, foi de R$ 18,1 bilhões, mas o
órgão não tem uma dimensão de quanto deste total já
está sendo executado dentro desta nova política.
A intenção
é diminuir a burocracia nas licitações - o pregão
eletrônico nacional acaba com a necessidade de
licitações estaduais e municipais. Além disso, os
vencedores são obrigados a fornecer os produtos
solicitados para todo o país, o que faz com que os
produtores ganhem em escala e, consequentemente,
consigam oferecer preços mais baixos.
Uma das
vantagens, avaliam os técnicos do ministério, é a
definição de preços nacionais, o que evita
superfaturamento. O modelo de pregão eletrônico e
registro nacional de preços, se adotado em outras
pastas, dizem estes técnicos, evita escândalos como
o da máfia das sanguessugas. Naquele caso, o
Ministério da Saúde repassava as verbas para as
diversas prefeituras e estas compravam as
ambulâncias pelos preços que desejassem. Pela nova
sistemática, os interessados em aderir ao programa
se inscrevem no MEC e, de posse da carta de adesão,
vão aos fornecedores que previamente venceram o
pregão eletrônico.
Para se
prevenir de preços superfaturados, o ministério
firmou convênio com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Cabe à entidade fazer a análise de mercado para
saber qual preço pode ser considerado razoável para
a aquisição de determinado produto. Em um caso
recente de compra de mobiliário escolar, por
exemplo, um estudo de mercado levou a FGV a fixar
parâmetro de compra no valor de R$ 389,06 milhões. O
pregão eletrônico promovido pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) finalizou a
compra por R$ 326,48 milhões, uma economia de R$
62,58 milhões para os cofres públicos.
No caso da
compra dos medicamentos para os hospitais
universitários, por exemplo, o estudo de mercado
feito pela FGV foi essencial. De 89 remédios
pesquisados, apenas 70 foram licitados no pregão.
Outros 19 ficaram de fora porque as propostas feitas
pelos fabricantes ficaram muito acima dos preços
verificados pela FGV.
A compra
dos medicamentos hospitalares para os hospitais
universitários foi a primeira ponte feita entre o
MEC e as universidades aproveitando esse novo modelo
de compras governamentais. As universidades que
desejarem poderão aderir ao registro nacional de
preços.
Outra
artimanha adotada pelo MEC é a divisão, em alguns
tipos de compras, das regiões a serem atendidas
pelos fornecedores. Novamente tomando como exemplo o
mobiliário escolar, o vencedor do Paraná terá que
fornecer mesas e cadeiras para Roraima, atingindo um
pólo desenvolvido e outro mais carente.
O ministro
da Educação, Fernando Haddad acredita que, a partir
do modelo adotado pelo MEC, outros ministérios
poderão obter ganhos em seu processo de compra. Em
tese, qualquer ministério com capilaridade nacional
- Saúde, Justiça, Integração Nacional, Transportes -
tem condições de aderir ao sistema de pregão
nacional e registro geral de preços. "O Ministério
de Desenvolvimento tem condições de estabelecer uma
política industrial a partir desse modelo. Não há
limites para esse tipo de modelo de gestão", defende
o ministro.
Haddad
acha que não apenas o governo tem ganhos com a
medida. "A indústria também, na medida que ganha em
escala. O setor têxtil, por exemplo, já se
interessou na fabricação de uniformes escolares para
toda a nossa rede", lembrou ele, acrescentando que o
universo potencial de consumidores são 60 milhões de
estudantes. "Ao analisar o modelo, percebemos que
praticamente todos os setores da economia fornecem
materiais para nós", ponderou.
O diretor
de administração e finanças do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), José Carlos
Freitas, disse que, em média, os pregões permitem a
obtenção de um preço ainda melhor do que aquele
considerado ideal pela FGV. "O estudo de mercado é
fundamental para traçarmos a nossa estratégia de
compras e definir o preço ideal. Normalmente, ao
realizarmos os pregões, conseguimos um desconto
ainda maior, que pode chegar a uma economia extra de
até 30%. Além disto, quanto mais embasado e
detalhado for o processo, mais fácil fica para que
as compras sejam fiscalizadas pelo Tribunal de
Contas da União e pela Controladoria-Geral da União
(CGU)", afirmou ele.
O diretor
do FNDE enumera os passos até que se chegue à compra
final. Primeiro é feita uma audiência pública ou uma
pesquisa com os possíveis públicos-alvo para definir
as necessidades. No caso dos ônibus escolares, cinco
mil estudantes do país foram entrevistados por
pesquisadores do FNDE. Em seguida, entra a FGV com o
estudo de mercado para mensurar o melhor preço para
o produto desejado pelos consumidores.
De posse
destas informações, o FNDE elabora o estudo com as
especificações técnicas do produto, que precisam ser
aprovadas em um rigoroso controle de qualidade. No
caso dos ônibus escolares, os veículos têm o selo do
Inmetro. No caso das cadeiras e mesas para as
escolas públicas, também. Após o pregão, os
compradores - prefeituras e governos estaduais - têm
várias opções para financiar suas compras: recursos
do BNDES; convênios com o MEC; emendas
parlamentares; recursos próprios ou verbas do FNDE
(orçamento de R$ 24 bilhões para 2010).
Se nas
áreas-fim do Ministério da Educação - escolas,
universidades e centros federais - o processo de
centralização de compras já está formatado, a
estratégia começa a se consolidar também nas
chamadas áreas-meio - as secretarias estaduais e
municipais e o próprio Ministério. O subsecretário
de administração do ministério, Dênio Menezes,
apresentou na semana passada o plano diretor de
aquisições de bens e serviços para a Rede MEC ao
comitê de compras da pasta. O plano vai coordenar as
compras internas, que podem incluir aquisições
simples, como copos descartáveis e pó de café.
Dênio
apresenta uma planilha mostrando que as despesas
correntes derivadas de compras feitas pelo
Ministério somam R$ 6 bilhões neste ano. As
economias geradas pelo novo plano - que também
incluirão um registro nacional de preços e o pregão
eletrônico - poderão somar R$ 310 milhões.
|