Micros têm maior participação em licitações de 2007.
Em uma licitação para a
reforma de uma quadra esportiva da prefeitura de
Atibaia, em São Paulo, a empresa de pequeno porte CV
Magalhães, do setor da construção civil, apresentou
a melhor proposta de preço, mas, por causa de
débitos previdenciários, não tinha como comprovar
sua regularidade fiscal. Há dois anos, a empresa, de
propriedade de Clésio Magalhães, estaria
automaticamente desclassificada do processo. No
entanto, como a licitação ocorreu após a promulgação
da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas - a Lei
Complementar nº 123, de 2006 -, a empresa teve um
prazo de quatro dias para negociar com a Previdência
e conseguir a certidão de regularidade, o que lhe
garantiu o contrato de R$ 38 mil com o município.
A CV Magalhães é apenas
um exemplo dente as 6,5 milhões de microempresas e
empresas de pequeno porte existentes no país que
passaram a ter maior competitividade nas compras
públicas, após a entrada em vigor da Lei Geral.
Essas empresas começam agora a ocupar o espaço
aberto pela norma. De acordo com um levantamento do
Ministério do Planejamento, as micro e pequenas
venderam 25% de tudo o que o governo federal comprou
no ano passado, percentual oito pontos maior do que
o registrado em 2006.
O crescimento é ainda
mais evidente em relação a mais produtos simples,
chamados "de prateleira", como alimentos,
ferramentas e instrumentos cirúrgicos. Em 2006, as
micro e pequenas empresas forneciam 10% destes
artigos. No ano passado, o total saltou para 48%,
quase a metade do que o governo federal comprou. Os
equipamentos para uso médico foram os mais vendidos,
com 11,8% do total. Entre os serviços, os mais
contratados foram os de agências de viagens e
turismo, responsáveis por 35,7% das contratações.
De acordo com Rogério
Santanna, secretário de Logística e Tecnologia da
Informação do Ministério do Planejamento, a maior
participação dos pequenos empreendimentos nas
compras públicas ocorre em razão das vantagens
competitivas trazidas pela Lei Geral, como a
exclusividade nos contratos que envolvam até R$ 80
mil e o maior prazo para a apresentação dos
documentos exigidos. "Os aumentos são evidentes
mesmo com apenas quatro meses, desde que as
vantagens passaram a valer", afirma. Embora a Lei
Geral seja válida desde 2006, a norma que
regulamentou as compras - o Decreto nº 6.204, de
2007 - só entrou em vigor em setembro do ano
passado.
Este curto período foi
o suficiente para a pequena indústria de
equipamentos médicos Ferrari Medical mais do que
dobrar a quantidade de vitórias em licitações. A
partir de setembro de 2007 foram firmados dez novos
contratos de venda com o governo, seis a mais do que
no ano anterior, segundo a gerente de licitações e
contratos, Aline Pellegrini Matheus. "A Lei Geral,
somada ao pregão eletrônico, descomplicou os
processos para as pequenas empresas", afirma.
A preferência dessas
empresas pelo pregão eletrônico - modalidade em que
são comprados os produtos e serviços mais simples -
se deve ao baixo custo e à reduzida burocracia
durante as licitações. Como todos os procedimentos
são feitos via internet, sendo só o vencedor
obrigado a apresentar documentos, os pequenos
empreendedores são os que mais participam. Das 274
mil empresas cadastradas pelo governo federal para
participar dos pregões, 158 mil são micro ou
pequenas empresas, que forneceram 64% dos 933 mil
itens licitados no ano passado.
Os efeitos deste
crescimento chegam ao mercado de trabalho. As
pequenas empresas respondem hoje por 52% dos
empregos no país, segundo o Sebrae. De acordo com
André Spínola, analista técnico da unidade de
políticas públicas do órgão, se todas as esferas do
poder público concedessem benefícios às pequenas
empresas, seriam criados cerca de 800 mil postos de
emprego por ano. "Enquanto as empresas maiores
precisam de uma receita de R$ 130 mil para criar um
emprego, as pequenas geram um novo posto a cada R$
40 mil faturados", explica.
Por causa das
licitações que ganhou no ano passado, o empresário
Clésio Magalhães teve de contratar mais 12
funcionários além dos dez com os quais já contava.
"Podemos agora competir por contratos maiores",
afirma. Para ele, as vantagens são pouco conhecidas
tanto pelas pequenas empresas quanto pelas maiores.
"Já houve quem questionasse uma comissão de
licitação por ter concedido à minha empresa
benefícios previstos na Lei Geral", conta. De acordo
com uma pesquisa realizada pelo Sebrae durante 2007
e 2008, apenas 37% dos pequenos empresários
brasileiros sabem das vantagens nas compras
públicas.
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